terça-feira, 25 de setembro de 2007

Entrevista de José Lopes ao Semanário Desportivo do Centro

Transcrição da entrevista que José Lopes concedeu ao Semanário Desportivo do Centro.
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Árbitro José Lopes integra Quadro de Jovens Talentos

“Vou trabalhar para chegar ao topo”

António Ferreira

Apesar de ser o mais jovem árbitro do distrito, José Lopes está “lançado” na arbitragem do basquetebol. A inclusão no Quadro de Jovens Talentos foi um passo muito importante, onde reconhece ter adquirido muitos conhecimentos. Em conversa com o Semanário Desportivo do Centro, reportando-se às dificuldades que se deparam ao juizes de campo, lamenta a pressão a que os árbitros são sujeitos por parte de treinadores e adeptos.

Semanário Desportivo do Centro (SDC) - O que o levou a entrar para a arbitragem numa idade em que é habitual querer-se jogar?
José Lopes (JL) -
Inicialmente integrei uma equipa de Minibasquete da Naval, onde joguei durante alguns meses. Quando não era convocado para os convívios o meu treinador pedia a minha ajuda para dirigir alguns jogos, tendo assim ganho gosto pela arbitragem.

SDC - Os primeiros passos foram difíceis? O facto de ser ainda muito jovem foi um óbice ou, pelo contrário, foi motivo para que as pessoas o acarinhassem e incentivassem?
JL -
No princípio da primeira época, foi difícil para mim entender a mudança de personalidade antes e depois de eu ser árbitro. Durante este tempo houve muita gente que me apoiou e que me continua a apoiar, mas a idade foi a maior dificuldade, uma vez que os treinadores e alguns agentes desportivos tendem a pressionar o árbitro mais novo. Na minha situação isso acontecia.

SDC- No início contou com a ajuda dos juizes mais antigos e experientes? E dos diversos intervenientes directos no jogo? Sente que os novos árbitros são devidamente apoiados no início de carreira?
JL -
Todos os árbitros que completaram o curso comigo tiveram todo o apoio dos elementos do Conselho de Arbitragem e de todos os seus filiados. Apesar de sermos poucos e por vezes ser difícil poder dirigir jogos com árbitros com mais experiência, somos uma grande família e ajudamo-nos mutuamente. Relativamente aos novos árbitros esse apoio está a ser feito, mas não com tanta eficácia, uma vez que os agentes credenciados para lhes darem formação muitas vezes são nomeados para fazer nacionais, fora do distrito, não sendo possível um acompanhamento mais eficaz.

SDC - No seu entender quais as principais dificuldades que se deparam aos árbitros no exercício da sua função?
JL -
Os novos árbitros em função deparam-se com o problema de não serem nomeados para jogos juntamente com árbitros regionais mais velhos, ou mesmos árbitros nacionais, porque estes normalmente estão em jogos nacionais no distrito e fora dele. Quando são nomeados, deparam-se com treinadores e adeptos que os colocam em excesso de pressão, o que os leva muitas vezes a ceder se não forem fortes psicologicamente.

SDC - Vários factores, entre os quais a velocidade a que se desenrola o jogo, obrigam a que os árbitros estejam bem preparados. Os árbitros também treinam durante a semana? No seu caso que tipo de preparação leva a efeito?
JL
- Os árbitros em Coimbra elaboram o seu próprio plano de treino. Esse plano normalmente é físico, na pré-época, e no desenrolar da época baseia-se no visionamento de vídeos de jogos para tentar corrigir alguns erros ocorridos. Este é o treino que eu levo a efeito, embora algumas vezes não seja possível desenvolvê-lo devido à carga escolar e à carga de jogos que cada árbitro tem por fim-de-semana.

Jovens Talentos

SDC - Integra o quadro de jovens talentos do Conselho Nacional de Arbitragem. Concretamente o que é este Quadro, como se processa a actividade e que importância tem para os árbitros que o integram?
JL -
Os novos talentos é um quadro em que o Conselho de Arbitragem de cada distrito escolhe alguns filiados para o integrarem. Numa primeira fase os árbitros são sujeitos a testes físicos, testes de vídeo e testes teóricos. Os primeiros doze irão participar numa segunda fase onde serão observados nos jogos por um treinador pessoal durante alguns meses, treinador esse que irá atribuir uma nota ao desempenho do árbitro. Consoante essa nota serão seleccionados para uma terceira fase onde irão dirigir um torneio, no qual serão observados por grandes nomes da arbitragem nacional e em que terão uma nota final. Este quadro e muito importante na formação teórico-prática de arbitro e na formação física do mesmo.

SDC - No seu caso o que recolheu com a participação na época passada nos Jovens Talentos?
JL -
Nesta acção adquiri muitos conhecimentos e desejo a qualquer árbitro a sorte de poder participar.

SDC - Até onde espera chegar na arbitragem?
JL -
Na arbitragem vou trabalhar para chegar ao topo. A concorrência é enorme, mas vou trabalhar por um objectivo que é erra o menos possível.

Direito a errar

SDC - "Errar é humano". Como enquadra este velho adágio popular no universo da arbitragem?
JL -
Todo o ser humano tem o direito de errar com um certo limite e é isso que acontece com os árbitros. Errar e na verdade humano! As pessoas criaram uma ideia de que os jogadores e os treinadores podem errar, mas os árbitros não. É injusto os árbitros errarem uma vez e serem sujeitos a ofensas dos adeptos. Muitas vezes um jogador falha pontos, os treinadores não dão as orientações correctas e ninguém os critica. Esta é uma realidade a que nos temos de habituar, mas nunca é tarde para mudar.

SDC - Quando um árbitro se apercebe que errou em determinado lance qual a melhor atitude a tomar?
JL -
Quando se erra a melhor atitude é corrigir esse erro quando possível, ou então tentar corrigi-lo para jogos futuros.

SDC - Na pré-época, sobretudo, é frequente os árbitros colaborarem com os clubes na condução dos chamados jogos de treino. Encara estes jogos como momentos importantes para a sua preparação? E também como um momento privilegiado para haver um maior convívio entre o árbitro e os restantes elementos do basquetebol, ou considera que esse convívio deve ser diminuto?
JL -
Os jogos de treino são uma base para uma boa época, uma ajuda para os árbitros se prepararem fisicamente e para aplicarem os seus conhecimentos com maior passividade.Um convívio saudável entre árbitros e agentes desportivos, ou mesmo uma amizade, não tem qualquer influência quando os árbitros estão a actuar. É necessário que as pessoas saibam distinguir a relação dentro e fora de campo para que tudo seja mais fácil. Como diz o velho ditado “serviço é serviço, conhaque é conhaque”.

SDC - Aproximam-se as competições inerentes a mais uma época desportiva. Com que expectativas as vai enfrentar, nomeadamente no que respeita às provas distritais?
JL -
Aguardo acima de tudo campeonatos bastante competitivos de forma a motivar todos os agentes desportivos. Espero uma época recheada de sucessos para todos os árbitros e que, mais uma vez, nos possamos orgulhar do trabalho desenvolvido ao longo da época. Para a próxima época tenho a ideia de pavilhões cheios, uma vez que os escalões de formação são cada vez mais acompanhados por familiares e porque o basquetebol é um desporto em crescimento.

SDC - Que mensagem gostaria de deixar aos diversos agentes desportivos que nelas vão estar envolvidos?
JL -
Desejo a todos os agentes desportivos uma época recheada de sucessos e que nunca se esqueçam que os árbitros tentam sempre dar o seu melhor.

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