quarta-feira, 12 de março de 2008

Desenvolver o minibásquete; que estratégias? (1)



OPINIÃO

San Payo Araújo

Director Técnico do Comité Nacional de Minibásquete



As pirâmides não se constroem a partir do vértice

Não sou apologista de modas e chavões. Tenho alguma dificuldade em lidar com o tão em voga “politicamente correcto”. Vem isto a propósito de frases e afirmações tantas vezes proclamadas e tantas vezes tão desrespeitadas.

“Sem formação não vamos a lado nenhum!”

“A prioridade das prioridades passa pela generalização da prática e por um maior investimento nas primeiras etapas da formação dos praticantes.”

“Temos que sair da cauda da Europa, em termos de praticantes desportivos federados.”

Em
conversa amena ou em fóruns todos concordamos com estas afirmações, contudo uma coisa é o discurso outra é a prática do dia a dia, e salvo honrosas excepções, na realidade não são muitos os que se preocupam, com sinceridade, com a formação dos mais jovens, nomeadamente das primeiras etapas. O problema, da distância ou contradição entre o discurso e a prática atinge todas as modalidades, umas mais do que outras, e é salvo melhor opinião, transversal, passa pelo estado, autarquias, federações, associações e clubes.
Sendo, em Portugal, os clubes a célula mais importante do tecido desportivo, há neste âmbito, no universo do basquetebol, felizmente clubes que dão muita importância à formação. A grande deficiência do desporto português, ao longo dos tempos, tem sido a falta de uma estratégia consistente e contínua num sector tão importante como o da formação. As pirâmides, que duram eternidades, não se constroem a partir do vértice.

7 comentários:

Anônimo disse...

A imagem da pirâmide não me agrada...traduz o abandono precoce da prática desportiva, que é real mas lamentável…
Proponho a imagem de uma casa (cubo sobreposto com uma pirâmide), em que o cubo de baixo representa todas as crianças e jovens a praticar desporto durante todos os anos de formação e a pirâmide em cima os que adquiriram especiais competências para aspirar a um nível competitivo mais elevado.

Anônimo disse...

Cara Alexandra

Permita-me que a trate deste modo, pois tenho muita consideração pelas suas pertinentes e lúcidas intervenções.

Embora, a experiência me diaga que é um sonho e eu gosto de sonhar, agrada-me de sobremaneira a sua imagem da casa (cubo sobreposto com uma pirâmide).

Como sabe no MB o mais importante é a criança e como tal eu encaro esta actividade, não como um encaminhamento exclusivo para o basquete, mas como um incentivo à prática regular desportiva.

Claro que me agrada a ideia de "todos" os que passam pelo MB ficarem ligados ao basquete, mas mais importante que isso é que seja um incentivo para uma prática regular e continuada desportiva.

Quanto à pirâmide no cimo do cubo já o tenho afirmado várias vezes: "Formar jogadores de basquetebol, não é apenas formar jogadores que cheguem nos séniores à selecção nacional,(cume da pirâmide)."

"Formar jogadores é formar "homens" que sejam portadores de valores e que fiquem ligados à modalidade, cada um ao nível das suas disponibilidades e capacidades"

Exemplificando para mim tanto é jogador de basquete aqueles que ensinei e jogam com prazer na CNB2 como os que jogam na Proliga ou jogaram na Liga.

As imagens podem ser perigosas pelo que agradeço-lhe este momento de reflexão que talvez tenha ajudado a clrifica a minha mensagem

Anônimo disse...

O comentário anterior foi publicado como anónimo pois estamos certos ser de San Payo Araújo, que por lapso não assinou.

Anônimo disse...

Ainda bem que gosta de sonhar e que defende que as actividades desportivas sirvam os interesses das crianças jovens a quem são dirigidas.
Obrigada!

F disse...

Caro Sr. San Payo Araújo

Sobre o título do seu artigo "As pirâmides não se constroem a partir do vértice" e aproveitando a sua ideia sobre a dificuldade que manifestou em lidar com o "politicamente correcto"(sinto-me então em casa) tentarei contra argumentar a opinião do senhor (contrariar é diferente de não aceitar)sobre o tema que lançou "Estratégias para o minibasquete 1" baseado na metáfora da pirâmide.
Naturalmente que a minha opinião não será melhor que a do senhor (nem pretende ser) mas é oposta. E se é oposta então cria "discussão" e se cria "discussão" aumenta a massa crítica sendo que, se o aumento da massa crítica provocar mais "discussão" (em vez de confusão)então provavelmente o bolo final sairá mais elaborado.
Mas tudo isto para lhe dizer que as pirâmides são sempre construídas a partir do topo(vertice) porque até as casas(as que se constroem a partir da base) têm sempre um responsável(um eng, o arq.etc...)a quem chamam o Dono da Obra e quer queira quer não, sem o Dono da Obra(o vertice)não existem casas (as bases).
Estarei de acordo com o senhor se pensar que, a robustez,a consolidação, os alicerces bem fornecidos de betão são essenciais para o desenvolvimento e sustentação da pirâmide(a base) mas pergunto:
Quem toma a decisão de construir uma pirâmide forte,robusta,sustentada,criando desta forma as condições para que essa pirâmide(a base)suporte todos os vendaveis que possam surgir durante o processo pós construção?
Seguramente que o tal Dono da Obra,(o engenheiro,o arquitecto e agora acrescento porque não,o dirigente desportivo) ou seja, quem está no vertice da pirâmide!
Pergunto novamente:
Que acontecerá a uma pirâmide ( construida pela base)se em vez de betão, nos seus alicerces, tiver apenas água e um pouco de areia?
Por certo, e ainda que construída a partir da base, ninguem lhe daria um futuro risonho e seguramente que nenhum dos leitores lá gostaria de morar!
Outra pergunta:
Mas, quem decide a qualidade e a quantidade do betão a utilizar na construçao dessa pirâmide?
Resposta: O Dono da Obra, o tal que está no topo(vertice) da pirâmide!

Tudo isto para entroncar no tema que lançou: " Desenvolver o minibasquete(e não o minibasquetebol - Minibasquete é diferente de minibasquetebol um conceito que aprendi com o senhor já faz alguns anos)que Estratégias?

Porque o tema já vai longo e porque a sua abordagem será faseada(este capítulo cálculo que seja o capítulo 1) seguirei tambem a sua metodologia lançando no entanto o primeiro tema para "duscussão":
Serão os dirigentes desportivos(o vértice da pirâmide) capazes de definir o conceito de Estratégia?
Para mim tenho algumas dúvidas mas(e agora digo eu) se tiver melhor opinião nao hesite em quantificar os que sabem o quer dizer vs os que usam o termo sempre que não sabem o que dizer!

Cumprimentos Pessoais

Carlos Grave

A. San Payo Araújo disse...

Caro Carlos Grave

Agradeço o seu contributo para a discussão aberta deste tema. Na realidade é minha intenção continuar o texto que agora foi publicado.

O seu comentário levanta questões muito pertinentes, pelo que estou a pensar sinceramente para tornar o debate deste blog mais interessante escrever um texto sobre o seu comentário e depois regressar aos outros textos de desenvolver minibásquete que estratégias?

Para a semana estarei no Jamboree e já me pediram (as solictações são muitas e o tempo escasso)para fazer um texto sobre este tema, pelo que fica a promessa do texto para daqui a duas semanas.

Para os problemas nunca há apenas uma solução e desde que o desenvolvimento e o bem-estar das crianças seja o que nos mobiliza é muito bom que haja debate, pelo que agradeço a sua intervenção, que me obriga a reflectir para poder cimentar as minhas convicções e sonhos.

Cara Alexandra

Uma vez mais muito obrigado pela sua leitura atenta e apoio.

Anônimo disse...

Os pais, hoje em dia, têm consciência da importância da actividade física na formação dos seus filhos e fazem por vezes grandes sacrifícios para poder proporcionar-lhes a integração num grupo desportivo.
Se, nos clubes desportivos, os objectivos primordiais a atingir forem vitórias e títulos, sendo os atletas não mais do que “a matéria-prima” para atingir tais objectivos, tal como sugerido no comentário, poderão “enriquecer” os curricula de treinadores e dos próprios clubes, mas não corresponderão às necessidades da maioria dos jovens utilizados como “matéria-prima”.
É absolutamente fundamental que as actividades desportivas das crianças e jovens sejam orientadas para que tragam benefícios à sua formação.
Se assim não for, corre-se o risco de que, em vez de uma actividade saudável, a actividade desportiva constitua, para os jovens, uma armadilha perversa…