Perceber o modus vivendi da nova geração, de forma a prevenir maleitas eventuais torna-se uma obrigação. Com efeito, pelas leis da termodinâmica compreendemos melhor que a energia excedentária está na raiz do excesso de peso; “se a energia absorvida exceder o dispêndio energético, então ocorrerá armazenamento do excedente”. Sendo este preceito óbvio e, com as atenções dirigidas para o resultado determinista das dietas contemporâneas na acumulação de gordura corporal, é obrigatório presumir-se que a constituição das dietas contemporâneas (dominada pelas fast foods) afectará as variações de composição corporal (massa gorda/massa magra) no decurso ontogénico, apenas em consequência dos desequilíbrios entre energia absorvida versus energia despendida. Por outras palavras, se a ingestão calórica superar o consumo calórico, existirá excesso de peso, abrindo caminho a uma série de doenças crónicas adjacentes.
É incontestável que os casos de excesso de peso e obesidade nos países desenvolvidos aumentaram substancialmente, mesmo nos últimos 20 anos, lapso no qual não se registou alteração no encadeamento genético. Este facto, suporta o argumento da importância, cada vez mais consistente, da interacção dos hábitos dietéticos e do exercício físico regular com o polimorfismo genético, na explicação da acumulação do excedente de gordura corporal numa porção significativa da nossa juventude.
O risco de aparecimento de doenças crónicas, sugere intervenções comportamentais sustentadas numa mudança do estilo de vida (exercício físico e alimentação adequada), sendo este o fulcro para reduzir tal fatalidade.
Apoquentava os meus leitores, em edição anterior, com o sedentarismo infundido pelo avanço tecnológico, bem como com a proliferação de fontes de lazer atractivas (de sofá) que têm dilatado o cardápio de doenças hipocinéticas. Somemos, agora, as dietas alimentares contemporâneas, e obteremos um composto nocivo para a geração que se apresentará como activa (?) na próxima década. O alarme soou há muito!!.
A comunidade científica, das mais distintas especialidades, tem-se preocupado, produzindo, em trinta anos, centenas de estudos de onde se esmiúçam os efeitos benéficos da prática do exercício físico e se emanam conclusões que se fundem numa única asserção:
- o incremento da actividade físico-desportiva promove a aptidão física. Este tornou-se, por força de razão, um propósito essencial de Saúde Pública, e à Educação Física e ao Desporto confere-se função de destaque na realização de tal objectivo, sobretudo com crianças (U.S. Department of Healt and Human Services, 1986; Sallis, 1987; Corbin, 1991).
Em Portugal, zelos congruentes têm provavelmente que ser adjudicados aos pais, agentes comunitários (escolas inclusive), e, indispensavelmente, às próprias crianças e jovens.
Os resultados de algumas das pesquisas sugerem que: i) a maior parte (84%) da actividade física das crianças e dos jovens ocorre fora dos programas de Educação Física, e ii) a aptidão relacionada com a saúde está significativamente associada a comportamentos de actividade física das próprias crianças e dos seus familiares.
A maioria dos estudos revelam também que quanto mais activos são os indivíduos mais aptos e quanto mais aptos mais activos (Haskell et al., 1985; Malina, 1991; Morrow, 1992).
A este propósito Malina (1993) refere que a actividade física é um processo (dinâmico) enquanto que aptidão é um estado (dinâmico ou estático). Por seu lado, a OMS (1989) salienta que a aptidão física e saúde não são sinónimos mas complementam-se. Enquanto saúde significa, de um modo simplista ausência de doença, a aptidão física implica vigor para alcançar determinados objectivos.
À actividade física regular apropriada é atribuído um papel importante no processo de crescimento e maturação. Tem por função facultar alguns benefícios (leia-se adaptações), a saber: aumentar a espessura, mineralização e densidade óssea; melhorar os desempenhos cardiorespiratórios, com grande incidência na capacidade vital; influenciar favoravelmente a integridade estrutural e funcional do tecido muscular.
O exercício físico regular apropriado deve ser incentivado nas crianças, desde cedo. A nossa prática e os dados objectivos que vamos inferindo reforçam esta nossa convicção. Sobre este assunto o American College of Sports Medicine afirma existirem evidências persuasivas que revelam que a actividade física regular exerce um efeito protector e propiciador de hábitos de vida activa determinantes no combate contra o desenvolvimento ulterior e progressão de uma infinidade de doenças crónicas.
Em suma, acreditamos que um adulto saudável e activo é fruto de condutas saudáveis activas durante a infância, corroborando do adágio chinês que preceitua: 'Quanto mais uma árvore demora a crescer, menos se deve esperar para a plantar'."
Opinião de Rafael Baptista
Professor de Educação Física e Mestre em Biocinética
Nenhum comentário:
Postar um comentário