"O progresso tecnológico nas sociedades ocidentais ou ocidentalizadas, tem facultado um conjunto de utensílios cuja proficuidade é, supostamente, o bem-estar do ser humano e o aumento do tempo livre. Todavia, como que por efeito boomerang, a alteração de condutas resultante de tão almejado aperfeiçoamento, reduziu as exigências físicas das actividades quotidianas tais como limpar a casa, lavar a roupa e os pratos, aparar a relva e tratar dos canteiros, deslocar-se a pé para o trabalho e tantas outras actividades que nos permitem dar uso ao corpo.
Cada vez há menos gente activa, e as perspectivas não são animadoras. Aumenta a pressão para 'agarrar as pessoas ao televisor'; os múltiplos jogos electrónicos (consolas, computador, game boy, etc.) vêm afastando crianças e jovens das actividades lúdicas tradicionais. Na geração de noventa, já há quem nunca fez jogos de rua ou de recreio, uma simples disputa, 'a correr mais rápido', 'a saltar mais alto e mais longe', até quem nunca 'arremessou mais longe e/ou com pontaria', e mesmo quem não tenha uma única bola.
O corpo humano está concebido para o movimento e para a actividade física; da mais ínfima célula, às estruturas musculoesqueléticas e órgãos sustentadores do metabolismo, toda a orgânica e mecânica corporal estão predispostas para o acto de se mover.
É verdade que uma boa parte das tarefas que dantes necessitavam de uma hora de actividade física podem ser realizadas, agora, em alguns segundos, premindo um interruptor ou inserindo um dígito. Por maioria de razão, dispomos agora de mais tempo livre para nos dedicarmos aos prazeres da vida. No entanto, esta assunção aloja deturpações que têm estimulado mais os estilos de vida sedentários do que os de vida activa.
Temos vindo a constatar que os estilos de vida e condutas dos portugueses em geral, das crianças e adolescentes em particular, têm-se alterado, acompanhando os ritmos de mudança mais perniciosos das sociedades tecnologicamente mais evoluídas; 'Depois dos EUA, a Grécia e PORTUGAL exibem as mais elevadas taxas de excesso de peso na população juvenil' [1]
Perscrutar os factos subjacentes, tem sido tarefa determinante para todos quantos pretendemos obviar apropriadamente as 'perversidades' consequentes das 'modernices' do mundo desenvolvido.
A escola e os clubes têm de ser, cada um à sua dimensão e respectiva especificidade, os espaços de instrução e de socialização, por excelência, para se incumbirem da (re)educação (no sentido mais lato), na qual a actividade física (hoje veículo de Saúde Pública) e o desporto (igualmente dilatado em conceito) podem exibir qualidades perfeitamente verosímeis, timbre das sociedades verdadeiramente desenvolvidas.
Temos de nos mexer!"
[1] (Arch Pediatri Adolesc Med 2004; 158: 27-33)
Rafael Baptista
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